Rogéria
Frasista, bem-humorada e autêntica são algumas das características de Rogéria. Nascida em Cantagalo, ela afirma que “Lá nasceu a maior bicha do Brasil – no caso, eu- e o maior macho do Brasil, Euclides da Cunha”. Assim, Astolfo como é chamado seu lado masculino, traz consigo uma alma feminina em busca de uma identidade que a defina para vestir e viver.
“Travesti da família brasileira” como ela se autodenomina, a primeira vez que se vestiu de mulher foi no carnaval, quando tinha 14 anos. Neste dia, Astolfo usou apenas “um maiô Catalina preto, uma saia amarela e um chapeuzinho para disfarçar o cabelo curto”, sem maquiagem ou peruca.
Se tratando de profissão, iniciou sua carreira como maquiador da TV Rio, onde ganhou seu nome artístico em duas etapas. A primeira delas foi quando Zélia Hoffman (atriz de um dos quadros do programa de Chico Anysio), decidiu o chamar de Rogério, pois acreditava que seu nome de origem era muito formal. Tempos depois, Astolfo foi a um concurso de fantasias e vestido de Dama da Noite, se destacou entre todos os presentes, sendo apresentado pelo locutor como “Rogério, maquiador da TV Rio”, a plateia o aclamou, gritando por “Rogéria”.
Durante o tempo que trabalhou na TV Rio, foi incentivada a interpretar. Sua estreia foi em 29 de maio de 1964 na Galeria Alaska no reduto gay de Copacabana. A vida da artista, foi contemplada por inúmeras experiências a partir de então, sendo jurada no auditório da Rádio Nacional, transformista em boates, maquiadora de celebridades e pioneira na televisão brasileira. Foi conquistando um enorme público, por conta do seu carisma e bom humor, foi a partir dela, que profissionais homossexuais foram aceitos na mídia e passaram a ter visibilidade.
Rogéria participou de inúmeras novelas, filmes e peças de teatro, foi jurada em programas de auditório que vão desde Chacrinha até Gilberto Barros e Luciano Hulk. Além disso, foi coreógrafa da comissão de frente da escola de samba São Clemente, em que representou “Maria, a louca”, na temática dos 200 anos da vinda da família real para o Brasil. Por fim, em 2016 lançou sua biografia denominada “Rogéria – Uma mulher e mais um pouco” de Marcio Paschoal.
A atriz recusou realizar a cirurgia de redesignação sexual, assim como não alterou seu nome de batismo em seus documentos, segundo ela “a mulher não é o órgão genital, a mulher está dentro de mim. Esse jeito de mulher ninguém me ensinou, nasci assim, não aprendi com ninguém. Não necessito de nenhuma genitália feminina”. Ela se tornou Rogéria, assim como nunca deixou de ver o Astolfo que habita nela.
A artista faleceu em 4 de setembro de 2017, aos 74 anos. Rogéria foi internada pela primeira vez em 13 de junho por conta de uma infecção generalizada, tendo alta duas semanas depois. Em 8 de agosto de 2017 foi internada novamente por conta de uma infecção urinária, onde precisou ser transferida para a Unidade de Tratamento Intensivo, sendo encaminhada para o quarto 18 dias depois. Seu quadro clínico agravou depois de uma crise convulsiva, seguida de falência circulatória aguda (choque séptico), causa que levou a sua morte.
A mulher que teve seu nome dado pelo público, conquistou o Brasil e driblou os carcereiros da vida alheia para viver a sua descobrindo o mundo. Rogéria, a travesti da família brasileira é um nome que jamais deve ser apagado da história LGBTQI+ do Brasil.