Indicação – Trans formas são (Alex Simões)

Com seis livros publicados – Quarenta e Uns sonetos catados (2013), (hai)céufies (2014), Contrassonetos: catados & via vândala (2015), Trans formas são (2018), No meu corpo o canto (2020) e Assim na terra como no selfie (2021), Alex Simões é um fecundo e imprescindível poeta e performer, que tem feito da poesia um lugar de exercício radical da liberdade e da performance um lugar de indistinção entre arte e vida.

Transitando entre as duas linguagens, assim como a sua poesia tem transitando entre as formas clássicas e marginais, Alex tem feito de sua arte um lugar de afirmação da vida. Além disso, há em toda a sua obra, um trabalho cuidadoso com a forma, de onde surge uma política poética “preto bicha pobre”.

Para conhecer o trabalho de Alex Simões, abaixo publicamos os poemas Meu canto pras paredes, que faz parte do livro Contrassonetos (2015) e O sorriso de Laerte, que faz parte do livro trans formas são (2018), além do vídeo poema Série de quatro (2017).

O preconceito é uma parede enorme
contra a qual desde sempre me empurraram
mas se tentaram e não me executaram
é que aprendi bem cedo que não dorme

o apontado: preto bicha pobre
no paredão cresceu e ficou forte
ainda com a dor que o véu da morte
bem do seu lado alguns amigos cobre

e é por eles que não me vitimo
nem quero mais derrubar a parede
apenas canto para além de um íntimo

desejo: reforçar rizoma e rede
cheia de nós, que não estou só, sou vivo.
picho a parede: verso afirmativo (SIMÕES, 2015).

**

porque quando nos sonhos parecia
tudo bem melhor
não era
sozinho.

parecia
bem melhor
que a vida
e não valia a pena
que escrevia e desenhava
à pena
a duras penas
não valia

a vida sem sentido
dá aviso
há vida pulsando
o tempo urge
e às vezes dói lembrar

então seguir em frente
desenhando esquinas
com a ponta do salto o pivô
sabendo tudo muito sério
inclusive o sorriso estampado
e a lisura do vestido.

a moda agora é sóbria,
nós não podemos ser.

é uma questão política:
o contraste é estratégia
de quem milita a alegria (SIMÕES, 2018).

**

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Helder Thiago Maia

Doutor em Literatura Comparada pela UFF e realiza estágio de pós-doutoramento na USP. É pesquisador do NuCus/UFBA e da Red LIESS/Espanha. É editor da Revista Periódicus (UFBA).

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