Caio Fernando Abreu
Jornalista, escritor e Dramaturgo são as profissões de Caio Fernando Abreu, uma personalidade cultural dos anos 80. Nascido no dia 12 de setembro de 1948, escrever fez parte de boa parte de sua vida, a prova disso é que escreveu seu primeiro texto com apenas 6 anos de idade.
Natural de Santiago do Boqueirão, interior do Rio Grande do Sul. Caio se mudou ainda adolescente para Porto Alegre com a família e três anos depois em 1966, publicou o seu primeiro conto “O Príncipe Sapo” na revista Cláudia. Ainda com 18 anos, ele escreveu o seu primeiro romance “Limite Branco” e ingressou no curso de Letras e Artes Cênicas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mas não concluiu pois foi trabalhar como jornalista.
Perseguido pela ditadura militar, Caio Fernando Abreu se mudou para o interior de São Paulo e morou com a escritora Hilda Hilst, depois para o Rio de Janeiro em 1971 e em 1973 se exilou na Europa, onde adepto a contracultura passou por diversos países. Em 1974, voltando para Porto Alegre, retoma para a sua grande vocação, a literatura, escrevendo assim desde teatros até contos que geraram a obra “O Ovo Apunhalado” publicado em 1975, terceiro livro do autor.
“O Ovo Apunhalado”, que narra os acontecimentos da década de 70, é visto como um dos mais importantes e melhores livros daquele ano e recebeu uma menção honrosa do Prêmio Nacional de Ficção. Mas, foi com “Morangos Mofados” que Caio Fernando Abreu ganhou a popularidade. Assim como o anterior, é um livro de contos considerados uma espécie de curtas-metragens sobre a metrópole e os zumbis que a habitam. São textos que envolvem sufoco, solidão, bebida, drogas, sexo e suicídio
Considerado um escritor de obras atemporal, seus textos possuía uma linguagem simples, fluida e coloquial, com temas que rompiam os padrões da literatura. E foi com essas características, que recebeu o Prêmio Jabuti na categoria “Contos, Crônicas e Novelas” três vezes, com as obras “O triângulo das Águas” (1984), “Os Dragões Não Conhecem o Paraíso” (1989) e “As ovelhas Negras” (1995). Além disso, ganhou o Prêmio Moliere com Luiz Artur Nunes em 1989 e o Prêmio APC em 1991 com a obra “Onde Andará Dulce Veiga?” (1990) de melhor romance do ano, que, inclusive, foi a sua última obra publicada.
Envolvido em crônicas semanais no veiculo Estado de São Paulo, onde era colunista, Caio Fernando Abreu descobre e declara publicamente no jornal que é portador do vírus da Aids, através de uma série de cartas chamadas “Cartas para Além do Muro” em 1994 e faleceu com 47 anos em Porto Alegre, no dia 25 de fevereiro de 1996.
Considerado um dos maiores contistas brasileiros, o autor tem em sua trajetória diversas frases que marcaram sua trajetória, uma delas é “Só que homossexualidade não existe, nunca existiu. Existe sexualidade – voltada para um objeto qualquer de desejo. Que pode ou não ter genitália igual, e isso é detalhe. Mas não determina maior ou menor grau de moral ou integridade.” (Caio Fernando Abreu), que trata sobre sua sexualidade. Frequentador de bares de sucesso e amigo de Cazuza, marcou toda uma geração de pessoas dos anos 70, que lutaram contra a censura da Ditadura Militar.
Para conhecer mais de sua obra de maior sucesso “Morangos Mofados”, segue abaixo um trecho do livro:
“Chovia, chovia, chovia e eu ia indo por dentro da chuva ao encontro dele, sem guarda-chuva nem nada, eu sempre perdia todos pelos bares, só levava uma garrafa de conhaque barato apertada contra o peito, parece falso dito desse jeito, mas bem assim eu ia pelo meio da chuva, uma garrafa de conhaque na mão e um maço de cigarros molhados no bolso. Teve uma hora que eu podia ter tomado um táxi, mas não era muito longe, e se eu tomasse o táxi não poderia comprar cigarros nem conhaque, e eu pensei com força então que seria melhor chegar molhado da chuva, porque aí beberíamos o conhaque, fazia frio, nem tanto frio, mais umidade entrando pelo pano das roupas, pela sola fina esburacada dos sapatos, e fumaríamos, beberíamos sem medidas, haveria música, sempre aquelas vozes roucas, aquele sax gemido e o olho dele posto em cima de mim, ducha morna distendendo meus músculos.” (Morangos Morfados, 1982, Caio Fernando Abreu)
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