Tomates Verdes Fritos – Fannie Flagg

Publicado originalmente nos Estados Unidos em 1987, Tomates Verdes Fritos, romance escrito por Fannie Flagg, narra a história de moradores de uma pequena cidade do Alabama. Adaptado para o cinema em 1991, o livro é composto por dois tempos narrativos: um nos ‘tempos atuais’, em que a Sra. Threadgoode conta episódios de sua infância para Evelyn, uma amiga que a visita periodicamente em uma casa de repouso, e o outro, no tempo em que os fatos aconteceram, por volta dos anos 1930, quando o Café da Parada do Apito era o ponto de encontro principal para os habitantes da cidade.

Apesar de apresentar muitas personagens, e pode-se argumentar que o próprio Café é em si um protagonista, a história se centraliza na vida das duas donas do restaurante, Idgie e Ruth. Ainda que não haja uma referência direta sobre um casamento oficial ou uma nomeação para o relacionamento delas, as duas mulheres se amam, vivem juntas, criam um menino, e não parece haver questionamentos na cidade a respeito disso. Idgie é uma mulher que, desde sua infância, é apresentada como não conformada com os papeis de gênero que lhe foram atribuídos, preferindo vestir-se com as roupas do irmão, Buddy, e recusando-se a exercer atividades que eram consideradas “femininas”. Ruth, por sua vez, é descrita como uma mulher “meiga e falava tão manso que as pessoas caíam de amores por ela à primeira vista […] era o tipo de garota meiga que, quanto mais a gente conhecia, mais bonita ela ficava” (p. 52).

Além de inserir personagens cujas performatividades de gênero e sexualidade divergem da norma, o cenário da pacata comunidade do sul dos Estados Unidos é também pano de fundo para uma narrativa que levanta questões raciais, uma vez que a presença da Ku Klux Klan aterroriza diretamente a população negra, que já sofre com a pobreza e a segregação racial imposta nos locais públicos. Confira abaixo um trecho do livro:

 

“Assim que a viram, todos os rapazes do lugar que nunca tinham ido à igreja começaram a aparecer aos domingos. Acho que ela nem imaginava que fosse tão bonita. Era gentil com todo mundo, e Idgie logo ficou fascinada por ela… Nessa época, ela devia ter uns quinze ou dezesseis anos.

Na semana em que Ruth chegou, Idgie não desceu daquele cinamomo, mas não tirava os olhos dela, sempre que ela entrava ou saía da casa. Então, logo começou a se mostrar; ficava de cabeça para baixo na árvore, jogava futebol no quintal, chegava em casa com uma penca de peixes, exatamente quando Ruth atravessava a rua de volta da igreja.

(…)

Onde quer que Ruth estivesse, Idgie também estava. Era uma coisa mútua. Elas contavam uma com a outra, e nós as ouvíamos conversar a noite inteira, sentadas no terraço.”

 

FLAGG, Fannie. Tomates Verdes Fritos no Café da Parada do Apito. 2ª ed. Rio de Janeiro: Globo Livros, 2018. Pp. 54-56.

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Carolina Hartfiel Barroso

Graduada em Relações Internacionais pela USP e graduanda em Letras Português/Espanhol na mesma universidade. É pesquisadora de literatura lésbica.

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