Indicação – A Hora da Estrela (Clarice Lispector)
Em 10 de dezembro de 2020 celebramos o centenário de nascimento de Clarice Lispector. O que poucos conhecem, e o que nenhuma comemoração fez questão de recordar, são seus personagens LGBTQIA+. No entanto, há estudos escassos e importantes sobre o tema, dentre eles destacamos os trabalhos de Rick Santos (2009) e Claudiana Góis (2018).
Certamente entender Clarice como parte da Literatura LGBTQIA+ brasileira ainda deve provocar calafrios em alguns críticos, editores e leitores. Apesar disso, “há o direito ao grito”, e por isso gritamos “sem pedir esmola” pelas vidas invisíveis de Moleirão, Serjoca, Carmem e Beatriz, do livro “A via crucis do corpo” (1974).
Gritamos também pelos frescos que Olímpico de Jesus Moreira Chaves, namorado de Macabéa e por Madama Carlota, que ama a brutalidade masculina, mas também o carinho feminino, em “A hora da estrela” (1977). Veja abaixo um dos conselhos da cartomante Madama Carlota a Macabéa:
“Eu tinha um homem de quem eu gostava de verdade e que eu sustentava porque ele era fino e não queria se gastar em trabalho nenhum. Ele era o meu luxo e eu até apanhava dele. Quando ele me dava uma surra eu via que ele gostava de mim, eu gostava de apanhar. Depois que ele desapareceu, eu, para não sofrer, me divertia amando mulher. O carinho de mulher é muito bom mesmo, eu até lhe aconselho porque você é delicada demais para suportar a brutalidade dos homens e se você conseguir uma mulher vai ver como é gostoso, entre mulheres o carinho é muito mais fino” (A HORA DA ESTRELA, 1977).
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