Paulo Gustavo

Criar um personagem não é fácil. Criar um personagem que fizesse o Brasil inteiro reconhecer o arquétipo perfeito de uma mãe real, é um ato de interpretação da realidade tão sutil que se torna extremamente admirável. O humorista Paulo Gustavo realizou muitos feitos admiráveis nos seus 42 anos de vida, mas a eterna Dona Hermínia, que é meio mãe de todos e inspirada na mãe dele próprio, é um dos principais marcos de sua carreira .

Entre muitos papéis e o sucesso, a estrondosa sequência de “Minha Mãe é uma Peça” (cujo terceiro filme possui a maior bilheteria da história dos filmes brasileiros, segundo dados publicados pela IstoÉ), Paulo Gustavo foi filho, pai, irmão e marido. Um gênio do humor, um filantropo, roteirista, produtor, diretor e uma representatividade LGBT singular.

O Brasil que esteve nas pontas dos pés durante as últimas semanas aguardando notícias de seu internamento, é o mesmo Brasil que se emociona ao lembrar-se dele. Famosos, anônimos, amigos e desconhecidos. Talvez nem o próprio Paulo Gustavo soubesse o quanto era admirado.

Seus primeiros passos na vida artística foram no teatro com a peça “O Surto” de 2004 e que dirigiu em parceria com Fernando Caruso, onde Dona Hermínia apareceu pela primeira vez e se destacou ao ponto de ganhar seu próprio espetáculo dois anos depois, em 2006. Mais sete anos se passaram e o primeiro filme de “Minha Mãe é uma Peça” nasceu, em 2013.

Nascido em Niterói, Paulo Gustavo iniciou sua vida profissional cursando Turismo, mas logo interrompeu, optando assim pela escola de interpretação Casa de Artes de Laranjeiras (CAL), local onde se formou em 2005.e tratando da família, o ator foi criado por sua mãe e irmã, mulheres essas que foram decisivas em sua carreira, pois foram elas os seus modelos para a interpretação de sua principal personagem.

Ainda adolescente, o comediante assumiu a sua homossexualidade, motivo que levou o mesmo a sofrer diversos preconceitos, inclusive de professores. Em 2015, Paulo Gustavo se casou com o dermatologista Thales Bretas e construiu a tão sonhada família através do método da barriga de aluguel nos Estados Unidos, já que tal procedimento é proibido no Brasil. E assim, os tão sonhados filhos Gael e Romeu nasceram em 2019.

A comédia de Paulo Gustavo era algo debochado e leve, trazendo sempre pautas importantes, o autor buscava conscientizar e normatizar a presença de personagens LGBTQI+ para dentro do cinema. Foi através dele que os brasileiros deixaram de rir por um homem estar vestido de mulher e riram pela personagem em si e o que ela representava, causando assim uma afetividade com uma presença tão marcante e que está presente na vida de muita gente.

A Dona Hermínia ensinou como lidar com os filhos, independente da orientação sexual, com amor, bondade e liberdade. Sendo uma mãe preocupada, presente e com filhos que muitas vezes não percebe o seu valor. Já Paulo Gustavo, tocou milhares de fãs com discursos fortes, que tratam sobre o amor, o poder do sorriso e a valorizar o outro, tornou a arte e o “sorrir um ato de resistência”, transformador, um método educacional, com um poder de libertar e tirar gargalhadas por todo o Brasil.

No dia 4 de maio de 2021, Paulo Gustavo faleceu com complicações causadas pela covid-19, após 57 dias internado, causando a comoção de milhares de brasileiros que admiram o seu trabalho. Seja em “Minha mãe é uma peça”, “Vai que Cola”, “Os homens são de Marte” ou “220 Volts”, ele sempre será um talento nato, um grande  artista, uma energia viva e deixa uma mensagem que “amar é ação, amar é arte e rir é um ato de resistência”.

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