Indicação – A queda para o alto (Anderson Herzer)
“A queda para o alto”, autobiografia de Anderson Herzer, narra principalmente a história do autor enquanto interno na Fundação Estadual para o Bem Estar do Menor (Febem), em São Paulo, nos anos 1980. Enfrentando múltiplas violências, inclusive por transgredir as normatividades da cisheteronormatividade, o poeta constrói uma escrita profundamente questionadora de opressões, sobretudo em relação aos corpos encarcerados.
Dividido em duas partes, Herzer primeiro apresenta textos autobiográficos que denunciam as barbáries vividas dentro da instituição, as quais permitem uma análise social precisa e necessária sobre gênero, violência e encarceramento. Na segunda parte, por outro lado, o autor apresenta poemas de grande lirismo, que contemplam os desejos, dores e vivências do sujeito lírico, o que termina por produzir uma autobiografia poética sobre Anderson.
Confira no trecho abaixo:
A GOTA DE SANGUE Eu decaí, eu persisti. Tentei por todos os meios ser forte. Lutei contra o tempo, chorei em silêncio. Gritei seu nome ao vento. Sou filho da gota, fui tempo de miséria, Meu pai, um perdido, Minha mãe, a megera. Cresci vendo prantos, dormi em meio a mata, Chorei gotas sanguíneas, sou o pecado, sou a traça. Eu ouvi seu grito de desespero, Vi a lenta corrupção, vi o olhar do corruptor. Vi sua vida em fase de destruição, eu vi o assassinato do amor. Tentei, venci, a vitória conquistei, porém um dia faleci. Hoje estou na sua lembrança. Sou talvez uma alma oculta, eu que fui esperança. Anderson Herzer (1982, p. 19)
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