O queer que não sabe o queer quer ou o queer é, ou uma travesti transpangênera que passeia e lança seu corpo ao mundo.
Talvez, minha melhor apresentação e convite à leitura desta coluna semanal já esteja colocado ao próprio título. Não sou tão boa ao descrever-me, mas pensar uma apresentação a partir da minha transpangeneridade pode ser o que de mais autêntico eu possa fazer, para que alguém compreenda que nem sempre é preciso compreender o próprio corpo para escrever sobre ele. Assumí-lo enquanto transito único e que pertence, de maneira turva, à eu mesma, já pode ser um começo autêntico e bom.
Aqueles que um dia, chegando à encontrar-me em qualquer ruela, esquina, e também em sala de aula, certamente verão que, do meu gênero, entrego-me à monstruosidade que acusaram-me ser e ter. Esta que fala-vos, encontra-se em processo de monstrificação acelerada, quase angustiadamente putrefa sobre um exercício de desaprender à saber e fazer o que um dia me disseram ser o certo.
Ter um corpo que só está ou que só é, e mesmo assim ousa escrever sobre si, o faz porque dialoga com outros corpos, antes de qualquer etiqueta. É daí os primeiros sinais de um “todo” de gênero. Por trás da sujeita escrevivente, a subjetividade, saberes-referências que não se materializam totalmente ao olhos nus, mas que alinhava o que eu escrevo ou falo, bem à verdade, está envolta de traduções frustradas que me levam à outras traduções frustradas, e mais outras, e mais outras, e mais outras… que não existem em nenhuma língua, nem em estruturalidade racional ou ficcional. Só existe e lateja em materialidade no corpo humano; sem traduções fiéis.
Mas talvez nem lateje tanto assim. Em alguns sentidos, a sociedade que nos normatiza, em seu desejo de docilizar o que aparentemente é diferente, acaba por nos incutir o desejo de etiquetas que variam desde as configurações familiares, até roupas, medalhas, diplomas, hormônios e aparências enquadradas em uma estrutura sócio-biológica, e tudo isso perpassa esta que escreve-vos. Com isso, além de reiterar o convite à leitura semanal, deste espaço virtus, quero dizer que teremos bastante assunto para as próximas semanas.
Certamente, este primeiro texto também é uma mensagem de esperança nas compreensões que ainda virão ao compartilhamento, denúncias sempre tranquilas daquilo que deve ser destruído; os sistemas de opressão. Em diferentes faces, nada novo sob o Sol, estes sistemas de opressão nos causam dores físicas, mas em nosso contra-ataque, permanecemos despertas e bem, e não devemos ter e ser as angústias que querem que tenhamos.
Antes de falar para qualquer pessoa, apresento-me humana, para depois, buscarmos compreender as diferenças. Assim sendo, não sabendo quem sou e tampouco o que pretendo, só escrevivendo, pelas pŕoximas semanas, desejo que possamos pensar juntes, como um corpo trans-travesti-queer-pangênero se organiza e percebe o mundo. Convido-es e espero-es. Até a próxima semana!
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Amiga, parabéns pelo texto!!!