The Price of Salt – Patrícia Highsmith

Publicado pela primeira vez em 1952, o romance The Price of Salt, também nomeado Carol, da autora estadunidense Patricia Highsmith, é considerado uma das primeiras histórias literárias lésbicas onde as personagens principais têm um final feliz. A narrativa tem seu foco no relacionamento entre Therese, uma garota de 19 anos que tenta ganhar espaço como cenógrafa em produções teatrais, e Carol, uma mulher rica que passa por um divórcio e disputas sobre a custódia da própria filha. Adaptado para o cinema em 2015, o romance retrata as dificuldades que casais homossexuais precisavam enfrentar nos anos 50 para conseguirem ficar juntos.

            A afetividade entre as duas mulheres é desenvolvida aos poucos no romance, o que acaba por revelar também um pouco da vida de Nova York dos anos cinquenta. O livro traz passagens onde as próprias personagens expressam sua indignação frente aos absurdos que são obrigadas a lidar, expondo a lesbofobia por elas sofrida: “Só agora ela percebera o que já intuíra antes, que o mundo inteiro estava pronto para ser seu inimigo, e de repente o que havia entre ela e Carol não pareceu mais amor ou felicidade e sim algo monstruoso, que as mantinha agarradas pelos punhos” (Highsmith, 2006, p. 219).

            Ainda que o romance tenha sido inicialmente rejeitado por sua editora, Harpers & Bros, por isso foi publicado através da Coward-McCann, e que a autora tenha utilizado o pseudônimo Claire Morgan para não ser identificada como escritora de um “livro lésbico”, alguns pontos positivos sobre sua publicação são debatidos no posfácio. Em um texto sucinto e impactante, a autora revela que a recepção de sua obra afetou positivamente a população LGBTQ+ dos Estados Unidos, e que recebeu diversas cartas de agradecimento por conta do inédito final não-trágico das personagens, como podemos ver no trecho:

“O atrativo de The Price of Salt era o seu final feliz para as duas personagens principais, ou pelo menos haveria uma tentativa das duas compartilharem um futuro juntas. Antes deste livro, os homossexuais, masculinos e femininos, nos romances americanos, eram obrigados a pagar pelo seu desvio cortando os pulsos, se afogando em piscinas, ou mudando para a heterossexualidade (assim se afirmava) ou mergulhando – sozinhos, sofrendo, rejeitados – em uma depressão dos infernos. Muitas cartas que me chegavam traziam mensagens do tipo, “O seu é o primeiro livro assim com um final feliz! Nós todos não nos suicidamos e muitos estão passando muito bem”. Outras diziam, “Obrigada por você ter escrito uma história assim. É um pouco como a minha própria história…”” (Highsmith, 2006, p. 274).

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Carolina Hartfiel Barroso

Graduada em Relações Internacionais pela USP e graduanda em Letras Português/Espanhol na mesma universidade. É pesquisadora de literatura lésbica.

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