Conheça o filósofo Paul Preciado
Paul B. Preciado: na engrenagem de excitação tecnoproduzida, corpos não são vivos nem mortos” (Foto: Marie Rouge)
Paul Preciado, é um filósofo trans, e se tornou um dos principais pensadores contemporâneos das políticas de corpo, gênero e sexualidade. É associado ao Centro de Filosofia Georges Pompidou, e tem obras conhecidas como “O manifesto Contrassexual, Testo Junkie e Pornotopia”. Nascido em 1970, como Beatriz Preciado, na Espanha, começou a aplicar pequenas doses de testosterona aos 34 anos. Transitou por um espaço de reconhecimento de gênero que oscilava entre o feminino e o masculino, entre a masculinidade lésbica e a feminilidade masculina, experimentou a posição que agora é chamada de gênero fluido. A fluidez se chocava com a resistência social para aceitar a existência de um corpo fora do binário sexual.
Em um fragmento de seu novo livro ‘Un Apartamento en Urano’, lançado pela editora Anagrama, e divulgado pelo site “El país”, Paul alega que renunciou à fluidez porque desejava a mudança . “A travessia é o lugar da incerteza, da não-evidência, do estranho. E tudo isso não é uma fraqueza, mas um poder. Em setembro de 2014, iniciei um protocolo médico-psiquiátrico de redesignação de gênero na Audre Lorde Clinic. Mudança de sexo e a migração são as duas práticas de cruzamento que situam o corpo nos limites da cidadania. Mudar de sexo não é, como quer a guarda do antigo regime sexual, dar um salto para a psicose. Mas também não é, como pretende a nova gestão neoliberal da diferença sexual, um mero trâmite médico-legal que pode ser completado durante a puberdade para dar lugar a uma normalidade absoluta. Um processo de redesignação de gênero em uma sociedade dominada pelo axioma científico-mercantil do binarismo sexual, onde os espaços sociais, trabalhistas, afetivos, econômicos e gestacionais estão segmentados em termos de masculinidade ou feminilidade, de heterossexualidade ou homossexualidade, é cruzar aquela que talvez seja, juntamente com a raça, a mais violenta das fronteiras políticas inventadas pela humanidade. Cruzá-la é ao mesmo tempo saltar uma parede vertical interminável e caminhar sobre uma linha desenhada no ar.”
O filósofo conta na entrevista sobre os processos desencadeados pela transição, como a mudança de voz e a escolha de um novo nome. Segundo o mesmo, a força da voz precipita uma mudança de reconhecimento social. “A testosterona provoca uma variação da grossura das cordas vocais, um músculo que, ao ter sua forma modificada, varia o tom e o registro da voz. A mudança de voz é experimentada pelo viajante de gênero como uma posse, um ato de ventriloquia que o força a se identificar com o desconhecido. Sem dúvida, essa mutação é uma das coisas mais bonitas que já vivi. Ser trans é desejar um processo de crioulização interior: aceitar que só somos nós mesmos graças à — e através da — mudança, da mestiçagem, da mistura.”
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